segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Day 3 - Your Parents - Imagine

Queridos Pais,

sei que provavelmente vocês nunca vão ler o que está aqui escrito. Tenho tanta coisa para dizer, que as palavras não passam para o documento, talvez porque me sinto sufocada por tantos sentimentos diferentes, talvez porque foram vocês que me ensinaram que há palavras que não precisam de ser ditas, que são sentidas. E isso, é o mais importante de tudo.

Sei que não sou a filha perfeita, que sou muitas vezes contraditória mas poderia eu ser diferente, sendo vossa filha?

Não tenho muitas recordações de infância, nem particularmente felizes nem particularmente infelizes. A partir dos oito anos é que as imagens do passado se assomam com mais clareza.

Sei que não sou aquilo que sonharam (mas alguma vez os filhos são o que os pais sonham?), que vocês não conseguem compreender tanta coisa em mim, e deveriam fazê-lo porque a minha melancolia e preferência por estar sozinha foi herdada. Sempre tive síndrome do patinho feio, sempre tive medo da solidão (e ironicamente sempre esteve mergulhada nela).

Não é como se eu não quisesse ser de outra maneira, eu não consigo ser de outra maneira. Entretanto luto pelos meus sonhos, porque isso sim, vocês souberam ensinar-me, como me ensinaram a analisar, a criticar, a usar a minha sensibilidade, a sonhar. Souberam ensinar-me a sentir tudo, as cores do silêncio, os cheiros, o calor, o riso e as lágrimas. E talvez por isso, eu não consiga ser outra pessoa. Não se equivoquem, estou-vos eternamente grata por tudo. Deram-me as coisas mais valiosas que tenho, deram-me quem sou. Desculpem por desiludir-vos da mesma maneira como eu vos perdoei por me terem desiludido.

Sei que me amam apesar de nem sempre demonstrarem isso da melhor forma, exactamente como nem sempre eu consigo demonstrar-vos o quanto vos quero e o quanto vos amo.

Faces iguais de moedas diferentes, não é?
Um beijo enorme,
J.

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